Nova operadora celular tenta entrar na Grande São Paulo
(Fonte: Valor Econômico)
Os prejuízos acumulados pelas operadoras de telefonia móvel no Brasil são bilionários, a competição entre as empresas tem ares bélicos e investidores peso-pesado dominam o setor. Alguém se habilita a entrar nesse mercado?
A Unicel, criada pelo americano Edward Jordan, diz que sim - e faz planos para se tornar a quarta operadora da Grande São Paulo, onde já estão Vivo, TIM e Claro.
A empresa obteve vitória no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF), em Brasília, numa disputa que trava com a Anatel pelo direito de explorar o serviço de celular na área metropolitana de São Paulo. Segundo Jordan, isso abre caminho para que a Unicel entre no mercado, embora o órgão regulador possa recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.
Num leilão promovido pela Anatel em fevereiro, a Unicel foi a única empresa a fazer proposta para adquirir licença para a região. Mas foi desqualificada porque, com base na Lei de Licitações, queria depositar como garantia 1% do valor mínimo da outorga, de R$ 93,8 milhões, enquanto o edital previa 10%. A questão foi parar na Justiça e a empresa obteve no TRF o direito de complementar o pagamento da garantia. Advogados da companhia devem ir hoje a Brasília para fazer o depósito.
Procurada, a Anatel disse que não poderia comentar o caso e que seguiria as decisões do Judiciário.
Se a estratégia for bem-sucedida, a Unicel pretende se tornar uma espécie de Gol da telefonia móvel. Assim como a companhia aérea, ela quer adotar um modelo de custos e preços baixos. "Vamos oferecer um plano único, pré-pago, com tarifas de 30% a 40% menores do que as oferecidas hoje no país", afirma Jordan.
Qual é o segredo da mágica?
Segundo o empresário, diversos fatores contribuirão para que a operadora tenha uma estrutura enxuta. O principal deles é que a empresa venderá apenas o chip do celular e não os aparelhos. Com isso, evitará os subsídios ao preço dos telefones que têm afetado os resultados das concorrentes.
Outro fator, acrescenta, é que o custo dos equipamentos de rede caiu muito nos últimos anos - o que reduz investimentos. Para completar, a Unicel aposta em projetos modestos de marketing e distribuição, que estão sendo formulados. A marca comercial que será adotada não foi escolhida ainda.
"Se você oferecer preços menores, as pessoas vão usar mais o celular e é daí que virá nosso retorno", diz Jordan, que ganha a vida atraindo investidores para negócios em tecnologia. Ele foi co-fundador de companhias como Dialogic e Flarion, vendidas respectivamente para Intel e Qualcomm. O empresário criou a Unicel em parceria com Gedilva Targino, filha de um ex-executivo da Embratel, e afirma estar levantando recursos com fundos de private equity e capital de risco nos EUA e na Europa.
A Unicel planeja desembolsar US$ 120 milhões para instalar 500 estações radiobase no padrão GSM. A meta é começar a operar antes do próximo Dia das Mães, segunda data mais importante de vendas no setor.
Em paralelo à licença de São Paulo, a Unicel aguarda a chancela do conselho diretor da Anatel para instalar uma rede nacional de serviços móveis especializados, na freqüência de 411 megahertz (MHz). A idéia é investir outros US$ 120 milhões para oferecer voz e banda larga sem fio, especialmente em cidades menores. A empresa pretende usar essa rede também para criar um sistema de comunicações voltado aos órgãos de segurança nacional. O plano foi levado ontem ao Núcleo de Assuntos Estratégicos do Palácio do Planalto.
No caso da licença de 411 MHz, será utilizado o padrão CDMA (o mesmo adotado pela Vivo). "Para os serviços de voz, o GSM funciona melhor. Mas, para transmitir dados, o CDMA proporciona mais velocidade", diz o presidente da Unicel, José Roberto Melo da Silva.
A estratégia da companhia soa ousada para o consultor Alexandre Gärtner, da Voga Advisory. Mesmo que consiga oferecer tarifas menores e fazer os clientes falarem mais no celular, a Unicel terá de arcar com pesados custos de interconexão. "O mercado brasileiro já está consolidado. É extremamente difícil começar do zero."
A licitação da qual a Unicel participou foi a terceira tentativa da Anatel de atrair uma quarta operadora para a Grande São Paulo, área mais rica do país. Telemar e Brasil Telecom avaliaram a possibilidade, mas desistiram. Em todo o país, há cerca de 96 milhões usuários de celular.
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